“Você é tão simpática. Por acaso foi simpática assim com ele também?”. Desde 2015, a atriz Livia Vilela lida com um stalker e com comentários como esse, que descredibilizam a gravidade de seu caso. A perseguição transformou-se em um espetáculo teatral: Stalking – um conto de terror documental faz uma curta temporada no teatro da Cia da Revista de 07 a 16 de março, com sessões às sextas e sábados, às 20h e aos domingos às 19h. Os ingressos custam de R$20 a R$40 e podem ser adquiridos de forma antecipada no Sympla.
O que começou com um “inocente” bombom logo ganhou contornos dignos de um filme de terror, com direito a ameaças por e-mail e aparecimentos inesperados. Por isso, vários elementos típicos de histórias assustadoras, como iluminação sombria, som repentino, gritos e até sangue falso foram incorporados na peça.
A partir da história de Livia, Paulo Salvetti construiu a dramaturgia. A dupla também forma o elenco e juntamente às co-diretoras Elisa Volpatto e Rita Grillo, constituem o TEATRO DE ESTILHAÇOS. No processo, a equipe percebeu que a narrativa poderia ser ainda mais impactante se explorasse também dispositivos típicos dos contos de fadas. Seria uma forma de evidenciar como a sociedade foi estruturada a partir dos comportamentos machistas e abusivos presentes na maioria, se não em todas as histórias infantis.
“Durante nossa pesquisa, entendemos como a educação está a favor dos valores do patriarcado, que são determinados desde sempre”, defende Elisa Volpatto, co-diretora que estreia na função ao lado de Rita Grillo. Basta lembrar de contos como o do Barba Azul, um notório assassino de esposas ou mesmo o da Bela Adormecida, que é beijada por um completo desconhecido enquanto dorme.
Para adentrar nesse universo fantasioso, todos os personagens masculinos são representados por meio de figuras grotescas, que remetem aos lobos das histórias infantis. Além disso, dança, máscaras e animação de objetos são incorporadas à encenação ao lado de documentos chocantes, como os áudios, canções e e-mails enviados pelo perseguidor.
“Em cena, a protagonista monta grandes quadros com evidências, e ao final, é como se toda uma cena de crime estivesse preparada no palco. Assim, a peça nunca perde seu caráter documental e de true crime”, conta Rita.
A ideia da montagem é tirar o espectador da zona de conforto. “A plateia não é apenas voyeur dessa história. Quem se dispuser a tal, pode experienciar, por meio da arte, um pouco do que a Livia viveu nesse tempo”, explica Salvetti.
Para produzir esse efeito, Stalking foi construída para desarmar todas as estruturas exaustivas que apareceram nessa trajetória da atriz para pedir ajuda. Isso significa que, em vários momentos, os personagens masculinos atravancam esse processo.
Serviço
Stalking – um conto de terror documental
Até 16 de março
sextas e sábados às 20h/ domingos às 19h
teatro da Cia da Revista (Alameda Nothman, 1135)
ingressos R$40,00 (R$20,00 meia entrada) – Sympla