Uma pergunta que recebemos bastante aqui no Guia do Ator é: como faço para trabalhar no exterior? Esse fascínio e ao mesmo tempo receio de tentar carreira fora do Brasil paira na imaginação e nos sonhos de muitos artistas e, por isso, decidimos falar um pouco com dois brasileiros que estão fazendo carreira fora de seu país de origem.
Planejamento
Quando o assunto é trabalhar com arte fora do Brasil, o sapateador, professor e coreógrafo Felipe Galganni já ressalta o fator mais importante de todos: planejamento. “Se informe o máximo possível sobre o que você quer fazer, veja vídeos, leia entrevistas, leia sobre o lugar para onde você vai, fale com pessoas que já passaram por lá, aprenda a falar o mínimo da língua”, ele aconselha.
Felipe nasceu em São Paulo, mas mora em Nova Iorque desde 2010. Hoje ele leciona regularmente na Steps on Broadway, American Tap Dance Foundation e Joffrey Ballet School, além de, também, ser professor convidado da Broadway Dance Center e Juilliard School.
Embora vários nomes estrangeiros possam ser bastante impressionantes no currículo de um brasileiro, vale lembrar que, mesmo com muito preparo, inclusive financeiro, podem surgir uma série de imprevistos e dificuldades durante a estadia de um artista exterior. “Muitas vezes pode levar um tempo até você conseguir se manter financeiramente na carreira artística que você escolheu neste lugar novo. Então, é preciso ter muita paciência e perseverança”, afirma Felipe.
Empresas e contato
Manter-se focado e animado, sempre pensando nos objetivos que quer alcançar no país escolhido são exercícios diários na vida do artista que está tentando a vida fora do Brasil. Além disso, fazer contato com quem conheça empresas ou produtores de casting no exterior e até mesmo entrar em contato diretamente com elas por meio de pesquisas em sites de busca podem ser tentativas que se convertem em ótimas oportunidades.
Depois de integrar o elenco de diversos musicais no Brasil, como “Alô Dolly” e “Crazy For You”, o bailarino Jefferson Ferreira, se apresentou nos cruzeiros internacionais das redes P&O Australia e Royal Caribbean. “Como swing em um espetáculo e cover de um dos personagens, conheci meu atual namorado Paulo Benevides. Como ele já havia feito navios no passado, ele mandou meu material para a empresa P&O Australia, e foi aí que fiz meu primeiro contrato no exterior”, conta Jefferson.
Depois de cinco contratos seguidos com a P&O, um atrás do outro, com férias de um mês e de ter conhecido vários lugares diferentes na Austrália, Asia e Europa, Jefferson ficou sabendo de uma audição para a maior empresa de entretenimento em navios, a Royal Caribbean, que aconteceria em Melbourne, Austrália, no mesmo dia que ele estaria em porto. “Resolvi tentar e deu certo: fui chamado para fazer um dos shows da Broadway que a Royal trouxe para os seus navios, mas infelizmente tive que recusar já que as datas não bateram com o meu então atual contrato na P&O, mas serviu pra eles terem meu contato”, relata o bailarino.
Mesmo quando o desencontro de agendas for um obstáculo, é importante sempre manter a porta aberta para as empresas, que podem entrar em contato com o artista mais uma vez, como foi o caso de Jefferson. “No início de 2019, entrei em contato com a Royal novamente e então fui chamado para o meu primeiro contrato com a empresa. Os ensaios ocorreram nos super estúdios em Miami e o itinerário no Caribe”, acrescenta o artista.
Idioma
É claro que saber um pouco do idioma falado no país escolhido é importante, mas ir aprimorando a fluência é primordial para conseguir boas oportunidades. “Existem incríveis companhias em todo lugar do mundo e em várias línguas, que aceitam e gostam muito de brasileiros. Portanto o inglês pode ser a ponte para essa conexão”, aconselha Jefferson Ferreira.
Estudo
Engana-se quem pensa que é só pousar em um país estrangeiro e já começar a receber convites. Além do desafio da cultura e da língua, os artistas brasileiros precisam sempre ter uma coisa muito importante em mente: o estudo. Se no Brasil os artistas que possuem mias bagagem e conhecimento cultural são muito mais articulados e convidados para testes e audições, a mesma coisa é praticada no mercado estrangeiro, talvez até com maior rigor em algumas nações.
“Eu cheguei em NY e comecei a fazer aulas na Steps On Broadway. Após dois anos sendo um aluno assíduo, Lynn Schwab, uma das minhas professoras, me chamou para substituir uma aula dela. Aos poucos comecei a substituir mais aulas e foi uma questão de tempo até ser convidado a dar as minhas próprias aulas na escola”, conta o sapateador Felipe.
Enquanto os projetos e escolas artísticas brasileiras sofrem cortes, censuras ou mesmo fecham as portas por falta de apoio, estudar arte em um país estrangeiro que a valorize é sempre uma rica oportunidade. Dentre as muitas instituições que valorizam a cultura fora do Brasil, seja no ramo da dança ou da música, o bailarino Jefferson lembra que voltar-se à base de todas as artes, ou seja, ao teatro, é sempre a decisão mais sábia. “Teatro é a expressão máxima da arte. Ele educa massas. Enquanto o governo e o cidadão brasileiro não entenderem isso, realmente será difícil melhorar qualquer coisa”, pontua.
É claro que não existe nenhuma mágica que faça um artista de repente estar empregado em outro país. Pode não ser fácil e render muitos meses de tentativas frustradas, mas, inspirando-se nas dicas acima, com certeza alguma coisa irá surgir! Boas oportunidades sempre aparecem para quem se coloca em movimento e vai de encontro a elas!
Boa sorte a todos!
Por Daniel Elias